terça-feira, 27 de abril de 2021

Cordel pro Lima Barreto * Chico Salles

CORDEL PRO LIMA BARRETO

CHICO SALLES

Falar de Lima Barreto

Nos Conduz a claridade

Odiosa opressão

Da nossa sociedade

Dotada de incoerência

Apogeu da incompetência

Falta de brasilidade.


Final do século dezoito

Antes da Abolição

Nasceu este carioca

Fruto da escravidão

Trazendo na consciência

Na conduta e aparência

A sua indignação.


Estudante exemplar

Às suas origens, fiel

Mulato de boa instrução

Mas, o racismo cruel

Feito a ponta do espinho

Estreitava seu caminho

Limitava seu papel.


Vitima do preconceito

Mal conseguiu se formar

Perdeu os pais muito cedo

E cedo foi se virar

Fez das letras sua amante

Como cronista brilhante

Serviu sem ser militar.


Escrevia em periódicos

Assumindo pseudônimo

Jornal do Comercio, a Noite

Já não era mais anônimo

Assim na Literatura

Com sapiência e bravura

Tornar-se-ia sinônimo.


Tratava do dia a dia

Dos assuntos do seu povo

Sua expressão literária

Demonstrava algo novo

Foi sim um pré-modernista

Inconformado artista

E para elite um estorvo.


Pra alma do Carioca

Foi seu maior escultor

Falava dos preconceitos

Com certeza e com vigor

Retratou a hipocrisia

Contrário à burguesia.

Lima mostrou o seu valor.


“Numa e a Ninfa”, escracha

Mais um deputado bandido

Em “Cemitério dos Vivos”

Narra momentos sofridos

A pena do Lima não para

Corta rente, fura, vara

Em favor dos oprimidos.


Entregou-se ao alcoolismo

Com várias internações

Problemas psiquiátricos

Entrou nas suas ações

Precocemente morreu

O mundo não compreendeu

As suas preocupações.


Depois, no andar de cima

Passou a ser estudado

Sua obra se tornou

Um produto exportado

Viveu a vida sem medo

E até com samba enredo

Já foi homenageado.


É comparado aos maiores

Um menestrel suburbano

Em Policarpo Quaresma

O conceito soberano:

Pra tirar ouro de cobre

Basta ser mulato, pobre

E avesso ao desengano.


Escreveu por linha certa

A tortura descabida

Seu legado, sua obra

Sua história, sua vida

Que de grandeza encanta

Ficou feito quem decanta

Pelo Brasil esquecida.


No cenário onde viveu,

Final dos anos oitenta

Uma turma da pesada

Turma ligada e atenta

No subúrbio da cidade

No bairro da Piedade

A liberdade alimenta.


Músicos, escritores, artistas

Pimenta, cebola e jiló

No Boteco do Seu João

No caldo do Mocotó

Um encontro sem procura

Muita fome de cultura

Esperança sem ter dó.


Na concentração do Bloco

Simão, DaPenha e Carlinho

Mandaram uma idéia

De ser feito com carinho

Uma casa ou um coreto

Na Rua Lima Barreto

Que era ali bem pertinho.


A casa Lima Barreto

Ali então foi criada

Num ambiente festivo

Comida, cerveja gelada

Samba na mão e no pé

Criança, marmanjo e mulher

Muita conversa animada.


Foi alugado um imóvel

Assim na raça e no peito

Com muita dedicação

Birita, piada e respeito,

Depois daquele carnaval

O Espaço Cultural

Estava montado direito.


Com o esforço do grupo

E mais alguns aliados

A casa funcionou

Mais de dez anos passados

Quando em dois mil e dois

Nem foi antes, nem depois

Teve seus portões fechados.


A falta do Poder Publico

Refém da corrupção

Junto com a pouca renda

Da nossa população

Pelos guetos oprimida

Sem o saber, desnutrida

É triste a constatação.


Mesmo assim lá vai ele

Abnegado, paciente

O Grupo do grande Lima

Pacífico e consciente

Original, radiante

Agora é itinerante

Agregado permanente.

 

Movido a muita paixão

Rango, manguaça e conversa

Musica tocada e cantada

A poesia se versa

Deixando a alma lavada

A mente bem arejada

Fui, que a minha hora é essa.

 


Biografia e revisões: SIMÃO.

capa do Ciro de Uriaúna

FONTE

https://piauinauta.blogspot.com.br/2011/03/cordel-pro-lima-barreto.html

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